quinta-feira, 19 de abril de 2012

Campeão Mundial de Ingressos


Quando se faz uma crítica ao atual preço dos ingressos praticados pelo Sport Club Corinthians Paulista é quase unanimidade o entendimento de que há abuso nos valores praticados. Quase unanimidade porque ainda há uma parcela de torcedores influenciados por teses falaciosas cujo objetivo é dissimular para usurpar ainda mais o dinheiro do torcedor. Estes teses aos poucos vão sendo desmascaradas.

Uma delas é a de que o ingresso no Brasil é barato, porque “na Europa o preço... blá blá blá, blá blá blá...”. E se é esse o argumento que escolheram para se contrapor a nós, é esse argumento que vamos desmontar.

Quando comparamos o valor nominal de um bem ou serviço podemos julgar a dificuldade ou facilidade de sua aquisição não pelo soar assustador ou agradável do número citado, mas pelo esforço de adquiri-lo via relação com a renda do indivíduo. Valores nominais são apenas meras representações. Valores reais, estes sim, são a proporção da relação esforço e benefício, ou o quanto o Torcedor se esforça para fazer a aquisição, e o quanto a mesmo representa de seu orçamento.

Aí alguém diz: “A cadeira lateral do Barcelona custa EU$ 137[1]. Aqui a Libertadores custa R$ 200 a “similar” cadeira “Laranja”. A cadeira lateral central do mesmo Barça custa EU$ 190, enquanto aqui a “similar” numerada coberta R$ 300”.[2]

Quem faz a afirmação acima compara 137 Euros para um trabalhador Espanhol com o equivalente 82 Euros[3] para um trabalhador Brasileiro. E essa pessoa deve realmente achar que está correta em seu raciocínio e pagamos pelo ingresso menos que eles. Porém, não contempla a outra perna da questão: se compara custo de vida há que comparar nível de rendimento médio anual desses trabalhadores. Do contrário vale a máxima: do que vale você ter um salário de 1 bilhão por mês se um copo de água neste lugar custa cem milhões? Seu salário equivale a 10 copos d’água. “Simples assim...”.


Desmontando o argumento...

Abaixo a renda média anual dos Países mais relevantes em termos futebol:

Figura 1.[4]

Como vemos no quadro acima, a renda média anual per capita no Brasil em 2011 foi de US$ 11.289[5], que são equivalentes a R$ 20.570[6]. Significa que um trabalhador Brasileiro situado na camada sócio-econômica média da população dedica 0,97%[7] de sua renda anual para comprar o ingresso da cadeira laranja, ou 19,4 horas trabalhadas[8], ou seja, quase 2,5 (dois dias e meio) de trabalho. É muito? É pouco? Vejamos...

A renda média anual per capita na Espanha em 2011 foi de US$ 32.545, que são equivalentes a R$ 59.300. Significa que um trabalhador Espanhol situado na camada média de sua população dedica 0,56% de sua renda anual para comprar o ingresso da cadeira lateral “equivalente” a cadeira Laranja do Pacaembú, ou 11,2 horas trabalhadas, ou cerca de 1,4 dias de trabalho.

Agora comparemos: o que é maior, 0,97% da renda anual, ou 0,56%? 19,4 horas de trabalho, ou 11,2 horas de trabalho? 2,4 dias de trabalho ou 1,4 dias? Agora sabemos que o Brasileiro paga 73% mais caro que o Espanhol.

Se considerarmos a numerada coberta veremos que o trabalhador Brasileiro paga ainda mais caro que o Espanhol, por uma posição similar em seus estádios. Mesmo que aquele pague R$ 462, ou 190 Euros, isso corresponde a 0,78% de sua renda anual, ou 15,6 horas trabalhadas, enquanto os R$ 300 que o Corinthiano para pela arquibancada coberta correspondem a 1,46% de sua renda anual, ou 29,2 horas trabalhadas, 87% mais caro que o Espanhol que vai assistir ao time do Messi.


Comparando com demais Países

Isso se tratando em termos de Barcelona, na Espanha. E se considerarmos França e Alemanha, países com economia mais robusta que esta primeira? Um torcedor do Lyon precisa trabalhar 3,5 horas e um torcedor do Bayern de Munique precisa de 3,3 horas para adquirir um ingresso similar à cadeira lateral. São países com renda per capita de US$ 33.655 e US$ 36.449 (respectivamente R$ 61.323 e R$ 66.414), e que cobram seus ingressos 44 e 45 Euros[9], idem.

Abaixo gráfico com a quantidade necessária de horas trabalhadas para de adquirir ingresso em setor equivalente do Pacaembú, ou seja, lateral do gramado em uma situação em que há níveis A e B, em que o A seria lateral coberta (numerada) e B a cadeira “Laranja”, descoberta, e arquibancada e tobogã os mais populares[10]:

Figura 2[11].



Em uma outra visão, utilizando os mesmos dados, podemos observar quantos ingressos dos demais times adquirimos com um ingresso Corinthiano:








Pagamos pela arquibancada quase quatro vezes mais que o Francês, o triplo do Argentino e o Português, o dobro que o Alemão e o Italiano... Por quê? É uma situação que reflete a triste realidade da situação fiscal Brasileira em que o Trabalhador possui alta carga tributária e não tem contrapartida de serviços públicos a altura. Mais uma vez a arquibancada é o espelho da sociedade.


Desigualdade social agrava o problema da exclusão nos Estádios

Um agravante ao fato de o trabalhador Corinthiano pagar o ingresso mais caro é a questão da desigualdade social no País, em comparação com os outros Países em questão. O Coeficiente de Gini mede a distâncias das maiores e menores rendas dentro de uma sociedade. Como vemos no gráfico abaixo, embora decrescente na última década, a desigualdade social no Brasil ainda é alta e significativamente maior do que os Países envolvidos nesta comparação.



Se no Brasil a distância entre ricos e pobres é maior significa que é mais sensível a população com menor renda qualquer elevação no preço dos ingressos, aumentando o abismo entre aqueles que têm ou não tem poder aquisitivo para freqüentar os Estádios, contribuindo de maneira nefasta a exclusão de parte significativa de sua Fiel Torcida.

Concluímos que devemos nos mobilizar para impedir qualquer tentativa de aumento nos preços atuais dos ingressos, aliada a ampla campanha de conscientização de que os atuais preços já estão bem acima da realidade sócio-econômica Brasileira.


Brigada Miguel Bataglia


[2] Este trabalho busca majoritária representatividade nos setores dos Estádios referidos, excluindo deste os serviços premium onde não há comparatibilidade, como os setores VIP de Pacaembú e Camp Nou.
[3] R$ 200 convertidos em Euros na cotação do Banco Central em 30 de Março de 2012. 1 EU$ = R$ 2,4300.
[4] Figura 1: dados do Banco Mundial referentes a 2011. Produto Interno Bruto por Paridade de Poder de Compra. Entende-se por PIB per capita o total de riquezas que um País produz por ano proporcionalmente a quantidade de habitantes. Convenciona-se chamar riqueza produzida de renda agregada, a mesma sendo deduzida da depreciação de bens de capital e impostos indiretos. Se a regra valer a todos os Países comparados, então usa-se PIB por Paridade de Poder de Compra.
[5] Fonte: Banco Mundial.
[6] Cotação Dólar Comercial no site do Banco Central do Brasil, referência 30 de Março de 2012. 1US$ = 1,8221.
[7] R$ 200 divididos por R$ 20.570.
[8] Considerando 250 dias úteis por ano vezes uma jornada de 8 horas diárias = 2.000 horas / ano. Daí, temos como renda média R$ 20.570 / 2.000 horas = R$ 10,28 / hora. R$ 200 da arquibancada “Laranja” / R$ 10,28 = 19,4 horas trabalhados.
[10] Foram utilizados no cenário do futebol mundial os principais centros e o clube mais relevante de cada país. A Grécia ficou de fora porque em todos os meios de aquisição oficial de ingressos são necessários login e senha, e não houve retorno a tempo de confirmação de acesso.

10 comentários:

Plínio disse...

Exclente análise!

Anônimo disse...

Isso tudo descontando o gasto que um sócio Fiel Torcedor desembolsa anualmente para ter o direito de adquirir os ingressos. Ou seja, o ingresso fica ainda mais caro.

Jonas disse...

Muito boa análise, porém, creio que exista alguns pontos discutíveis.

Levando-se em consideração que um torcedor do Corinthians que mora no nordeste dificilmente vem a São Paulo para assistir um jogo, e levando-se em consideração que a população do nordeste puxa para a baixo a média do salário do brasileiro, acredito que uma análise mais próxima da realidade seria se ao invés de comparar com o salario médio do brasileiro, fizesse com base apenas no do estado de SP.

Além de analisar diversos outros fatores, como carga tributária nos salários e etc.

Mas de qualquer forma, muito boa toda a análise.

Maria Angélica disse...

Excelente texto. Apresenta dados que municiam nossa argumentação contra os elitistas que, infelizmente, existem dentro da própria torcida. Houve um comentário no meu blog que elogiava a atuação do marketing porque ele estaria possibilitando que o corinthiano se transformasse, deixando de ser maloqueiro para ser um todo poderosoo.

Anônimo disse...

Porque não tem a Inglaterra?

André Reis disse...

Há um pequeno equívoco em pensar que a renda do nordeste puxa para baixo essa conta. Em 2010 um estudo do IBGE apontou o nordeste como a região que mais cresceu a renda por trabalhador no período de 2004 a 2009, além do que, por incrível que pareça, a região Centro-Oeste do Brasil apresentava renda por trabalhador maior que o Sudeste e Sul, 2º e 3º colocados respectivamente. Essa ideia de que o nordeste é mais subdesenvolvido, mais atrasado, e blablablá não é tão convincente mais, até mesmo porque o que tem rolado de isenção de impostos para fabricantes se instalarem por lá não é brincadeira, a Fiat vai abrir uma fábrica por lá em alguns anos.
Além do que, todo país tem a região 'menos favorecida' que 'puxa para baixo' como o amigo aí de cima quis dizer.

A análise é muito boa. Excelente.

E um ponto que, acredito que propositalmente, não foi levado em conta e que agravaria ainda mais essa diferença e abuso com relação aos preços dos ingressos no Pacaembu com relação aos demais a que foi comparado: a qualidade do serviço prestado aos consumidores (conforto, organização, alimentação, banheiro, praticidade e até o tratamento devido das autoridades ali presentes para manter em segurança a integridade do trabalhador em sua hora de lazer).

Abraços amigos, força na batalha e apoio das Minas Gerais!

André Reis - Fiel SJ - Onde For e Quando For, sempre pelo e para o CORINTHIANS!

Álvaro disse...

Excelente!

E nem estamos discutindo a questão de conforto nos estádios brasileiros. Não falo de uma poltrona para a bunda, mas da distância e posição do torcedor em relação ao gramado. O Pacaembu, que eu adoro, tem a tal pista de atletismo que deixa a arquibancada muito longe do campo.

Quem já foi em qualquer estádio europeu (nem precisaria ser o Camp Nou) já nota tudo diferente quando percebe que as traves dos gols estão pertinho.

Lembro estar atrás do gol numa partida na Copa da França e ouvir as broncas do Zagallo para o J. Baiano, os alertas do Tafarel etc. É outra dimensão.

Por fim, para o Timão, é óbvio o que acontece: perdemos nosso diferencia competitivo que é uma torcida que apoia incondicionalmente 90 minutos. Com preços caros, aumenta a presença do torcedor pouco habituado e que vaia quando o Douglas tenta um passe difícil mas decisivo. Esse burguês poltroninha é incapaz de entender que a sua função é sempre apoiar a tentativa.

Anônimo disse...

Parabéns pelo trabalho!

Anônimo disse...

ótima analise, ótimo texto, mas um detalhe. A nossa economia é diferente da européia. se tivessemos uma economia igual a deles e os ingressos nos valores de hoje, o calculo seria diferente.
Comparar preço de ingresso no Brasil (no caso corinthians) com outros países é como comparar o futebol brasileiro (qualidade) com o futebol europeu.
O ingresso para nossa realidade é caro, mas não podemos usar a Europa como como parametro.

Anônimo disse...

mas cara, tambem não podemos esquecer que o Brasil é mto grande. Estamos falando da parte rica do pais que é são paulo. não estou defendendo, os ingressos são caros. mas o mais barato, acho num preço ate menor do que poderia ser 50 poderia ir para 60 ou 70 e diminuirem o resto. Se não não vai encher nunca. Mas tenho certeza que eles tem medo de fazer isso por causa das organizadas que usam o ingresso do preço minimo

abs vai COrinthians